29 de setembro de 2008

depois de acordar.

ele deitado, descoberto com o lençol no chão, desprotegido e coração pelado. ela ao seu lado,
fazendo um travesseiro dos seus braços. calor da manhã entrava pelas frestas da janela. os
dois juntos em uma cama de solteiro. o barulho do drive-thru entra em
seu quarto e em seus complexos pensamentos sobre ti.
ele olha pra ela. seu olhar é fixo, um olhar que atravessa a carne.
[tic tac] ela repare nele, em seu rosto, sua pele, rela os dedos
macios e precisos: cabelo e desce, olhos e desliza, orelhinha e pára. espera.
[um movimento] ela:
- acordou, o que foi?
- sim, sonhei...outra vez...
-é, eu sei.
-você sabe?
-não, eu sei como é.
[stop] ele:
-me conta.
-não preciso, você quer escutar de mim o que viu o
sonho todo.
-eu quero.
-não
[ele puxa o ar com força, a envolve com os braços]
-que grande confusão. tô com uma coisa aqui que vai acontecer
ou aconteceu já.
-você quer que ela aconteça?
-se ela acontecer não sei como será.
[eles se olham atentamente e se encostam mais. uma boca roça
na outra, juntinhos. respiração ofegante. a gritaria vira
poesia. frente a frente problemas adormecem]
-e agora?
-a gente não faz nada. deixa rolar o tempo.
-tá.
[pausa]
-você me ama...?
-eu também.
[sinos] o relógio da Igreja não mente, meia noite. ela tem que ir.
de fora se vê como são vistos duas almas gêmeas. agasalhados por abraços,
numa imensidão. acordando, recomeçando.
eles viveram muitas coisas, mas não viveram nada ainda.

*pequena homenagem a uma pessoa especial*

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